Posicionamento sobre as eleições - Resposta

        

 

        Este artigo vem do site Crer e Pensar, e é uma opinião sobre o vídeo do pastor Paschoal Piragine Jr. Eu achei interessante postar aqui no site como uma forma de mostrar as duas formas diferentes de pensar. Se você ainda não viu o vídeo veja aqui (contém cenas fortes), mas acho que o essencial, que foi inclusive defendido pelos dois lados do discurso, é que precisamos votar com consciência. Leia o texto, veja o vídeo, só não esqueça de pensar por conta própria:

         Esta semana um vídeo “bombou” na internet. O recebi de vários amigos, várias lists, comunidades no Orkut, twitter... por isso quero comentá-lo. É um vídeo onde o pastor da Primeira Igreja Batista de Curitiba, Paschoal Piragine Jr, recomenda de forma enfática que os cristãos não votem em quaisquer candidatos do PT. Faço minha crítica ao vídeo.

E a faço isto com muita tranqüilidade, por três motivos: primeiro por gostar de ouvir o Pr. Piragine, logo não se trata de criticar alguém por quem já nutro uma antipatia, o que tornaria a coisa muito mais fácil; segundo, porque apesar de por muitos anos ter militado pelo PT (mesmo sem nunca ter me filiado), hoje nem sequer voto em Dilma, ou no governador (aqui no Rio do PMDB, mas apoiado pela legenda) Sérgio Cabral. Logo, também não é um contraponto de um “petista melindrado” com as falas do pastor; e terceiro e último: sou batista, assim como o Pr. Piragine.

Em primeiro lugar gostaria de dizer que há algo de bom nisso: a igreja acordar pra sua participação política, não como massa de manobra, mas como força de conscientização. O problema é quando essa conscientização é feita em forma de “mensagem” e não em forma de “debate”. Um pastor falando do púlpito, sem que haja um espaço democrático de discussão do que foi dito, pode parecer manipulação, e não conscientização.

Mas achei superficial! Além de apelativo!

Em pouco mais de 10 minutos o pastor da PIB de Curitiba expõe o porquê não votar no PT. E aí começam os problemas: ele faz uma série de acusações que deveriam ser levadas a debate, e não colocadas como “vontade de Deus” para seu povo. As acusações são superficiais, e muitas vezes, mentirosas.

Não há no quadro do PT, por exemplo, uma defesa da pedofilia, como é explicitado no vídeo altamente apelativo colocado pelo pastor.

As lutas em questões como a homossexualidade estão presentes em quase todos os partidos, com deputados que apóiam e que votarão, sim, a favor da PL 122, mesmo contra a “orientação” de seus partidos, pois querem ficar bem com a “opinião pública”.

A questão da união civil entre homossexuais não deve ser enxergada em pé de igualdade com a idéia de “casamento gay”. Particularmente, até entendo que lutar por esse direito para aqueles que são homossexuais parece muito mais com os ideais de JUSTIÇA do Reino, por mais “ofensivo” que possa parecer à nossa fé. É uma questão muito mais complexa e exige um debate demorado e honesto, e não uma acusação leviana em um vídeo manipulador e superficial.

Mas a tônica da mensagem curta do Pr. Piragine girou em torno do que ele chamou de “iniqüidade estabelecida”, ou “iniqüidade institucionalizada”. E é aqui que, como dia minha avó, “a porca torce o rabo”.

Por que?

Porque o Pr. da PIB de Curitiba dá a entender que essa “iniqüidade institucionalizada” é patrimônio do PT, e é complicada uma afirmativa dessas.

Por que não dizer também do fisiologismo descarado do DEM, ou isso não seria uma forma de “iniqüidade estabelecida”?

Por que não falar do capitalismo selvagem e neoliberal do PSDB, que achincalha o pobre e favorece os mais ricos, pra que se tornem ainda mais ricos? Não seria isso “iniqüidade institucionalizada”?

Por que não dizer dos membros do PV que defendem abertamente a legalização da maconha, e o aborto? A “iniqüidade institucionalizada” é privilégio petista? E olha que eu voto abertamente e tranquilamente em Marina Silva.

Por que não denunciar líderes evangélicos, pastores, e outros pilantras “cristãos” que até hoje mantém seus domínios de rádios, gravadoras, etc... graças ao apoio prestado aos militares na época da ditadura? Em nome da” pregação do evangelho” vale apoiar a “iniqüidade institucionalizada”?

E a “iniqüidade institucionalizada” fora da política, como no caso do Sr. Silas Malafaia, que é um dos maiores “gritadores” contra a PL 122, mas que chama de trouxas aqueles que ofertam por amor, e promete os maiores absurdos em nome de Deus para seus fiéis depositários? Não seria o caso de apontarmos o dedo antes em nossa política “cristã” e “denominacional”, antes de partirmos pra “fora”?

Quais as fontes e companheiros do Pr. Piragine para tais acusações? Ele deixa claro, alguns pastores e setores da Igreja Católica. Um pouco de discernimento histórico nos mostra que a ICAR e principalmente o meio histórico tradicional e pentecostal brasileiro sofrem de uma aversão história aos que denominaram partidos de “esquerda”, principalmente os de influência marxista. Lembro de pastores dizendo que “vermelho é a cor do diabo e dos comunistas.”

Portanto, a ferida é muito mais profunda do que se imagina, e não é domínio do PT. Se queremos (e creio que devemos) discutir política em nossas igrejas, devemos fazê-lo de forma responsável, e democrática. Não de cima para baixo e baseado em informações que merecem um debate mais acurado.

Continuarei ouvindo algumas mensagens do Pr. Piragine... mas espero que ele continue fazendo o que durante mais de 30 anos faz muito bem... só pregar a Palavra.

E que fique bem claro... é somente uma opinião... Deus não me revelou isso, ok?

 

José Barbosa Junior – 03 de setembro de 2010